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Filósofo educador. "(...) a felicidade não é o somatório de todos os prazeres de que logramos desfrutar menos todas as dores que não conseguimos evitar e, sim, uma certa qualidade de vida".

sexta-feira, 1 de maio de 2009

A ALMA DA MULHER


As mulheres deveriam sair de casa em três ocasiões; para o batismo, o casamento e outra para o próprio sepultamento, diz Padre Vieira em algum de seus escritos. Mesmo que essa forma irônica, a princípio possa parecer uma ofensa ao gênero, evitaremos fazer qualquer juízo de valor sobre essa questão sem, portanto deixar de falar da alma da mulher.
Para sermos mais razoáveis usaremos critérios menos dogmáticos para falar do gênero e de sua luta tomando como referência a história recente da humanidade. Assim, elegemos a modernidade e o século das luzes como nosso ponto de partida esperando encontrar as respostas para os atuais dilemas enfrentados pela mulher.
A modernidade trouxe avanços incalculáveis para a humanidade em todos os setores que se possa imaginar. Seus reflexos foram sentidos nos modos de produção, no trabalho do homem, na arte, nas crenças e inspirou novos padrões de comportamentos. Com isso reservamos um espaço para um importante questionamento: - a mulher foi motivo de atenção no enquadramento dessa nova mentalidade? - Se as mulheres hoje avançam é porque elas nunca tiveram um lugar de destaque ou porque perderam esse lugar no desdobramento da história?
Em face do exposto acima, o que se pretende aquilatar bem de perto é o lugar da mulher no quadro da história seja na mais antiga como na mais recente. O que há por trás dos discursos e das produções midiática que via de regra enaltecem a mulher? Muito se tem avançado nessa questão e ainda há muito que fazer para resolver os grandes desníveis de gênero construídos historicamente. Em se tratando dos Direitos individuais temos poucas razões para pensarmos que a questão de gênero apesar das boas iniciativas e de Leis reconhecidas tenha alcançados os resultados esperados. Sendo assim, por que ainda hoje não percebemos sua prática efetiva? No hiato deixado pelas promessas e o faz de conta, vemos demasiadamente ser desconsiderada a Alma da mulher.
A história registra grandes personagens femininas que doaram suas vidas e nem por isso foram dignas de altares e admirações. No entanto, páginas quilométricas de queixas e mal estar contra a mulher engrossam as estatísticas e não raro são silenciadas nos calabouços dos tribunais.
A mulher não está satisfeita e nunca esteve com o papel assumido na sociedade. Não tolera a indiferença seja ela como for. Seja no trabalho, na religião e do ponto de vista humano. A bem pouco tempo acompanhamos o inferno astral enfrentado pela Marina Silva Ministra do meio ambiente para entregar o cargo. Não faltaram argumentações e tampouco será nosso motivo descobri-las. Para não polemizar preferimos a idéia de que ela se viu desgastar-se diante de intermináveis conflitos e interesses partidários. E por que não citar a Ministra Matilde Ribeiro (igualdade racial) que na ocasião foi execrada pela mídia por ter usado indevidamente o cartão corporativo. Seus assessores defendem que sua permanência no governo demonstraria a resistência de uma “mulher negra” diante da elite brasileira. Foi sem dúvida muito rápido e com tamanho pragmatismo que ambos os casos foram tratados. Cá entre nós, por que não deliberaram de forma delongada como nos casos do Renan Calheiros, a trupe do mensalão e tantos outros casos onde estiveram envolvidos lendários personagens masculinos?
Por que dispensar tanto interesse envolto a esse clímax para que a mulher possa conquistar um papel na sociedade? Ela nunca teve uma posição social de destaque? Trata-se de uma conquista ou re-conquista? Para tais objeções faz-se mister uma incursão pela história e veremos que não há uma só época em que a mulher não tenha assumido um valor incalculável, uma grande capacidade para se destacar e ocupar páginas importantes do seu momento histórico. Não se trata aqui de algum caso específico que sempre existiram, mas, civilizações cujos critérios permitiram a mulher ocupar um lugar importante, seu próprio lugar com status de matriarcado.
A televisão tem reforçado muito bem essa questão quando colocam na sua programação novelas de caráter histórico e semi-historico onde voltam a reluzir antigas civilizações matriarcais nas quais as mulheres eram as deidades fundamentais e tudo girava em torno dessas figuras que pareciam nuclear os seres humanos. Naturalmente não se trata de um menosprezo do homem em detrimento da mulher, de colocá-lo em situação secundária, simplesmente porque elas tinham seu papel preponderante e era o centro da vida e cuidava para que todos estivessem unidos. Esse papel de eixo, centro, núcleo, consoante relatado nos mitos gregos e romanos quando falam da Deusa do fogo: está no centro da Terra, no fogo do altar e no do lar, no centro da casa..., e isso é a mulher. Esse fogo é síntese da vida e tem a capacidade de que tudo se concentre ao seu redor, sem falar minuciosamente das Erínias, deusas que personificam a vingança, protetoras do matriarcado.
Aos amantes da filosofia, cabe lembrar aqui o preço pago por Agamenon diante do estado de fúria e pura des-razão de sua esposa, Clitemnestra que o esquarteja fazendo cumprir o seu desejo de vingança pela morte da filha e honra da sua Irmã Helena.
Como se pode notar a história nos revela muitas situações que se levada à tona, nos faz aproximar um passado longínquo à contemporaneidade sem nada a perder. Entretanto, não podemos nos furtar a ocasião em se perguntar como e por que razões a mulher foi perdendo esta identidade de centro, de núcleo.? Alguns poderão por razões circunstanciais apostar no caráter psicológico, outros no caráter religioso e talvez a soma das duas para subtrair qualquer questionamento.
Contudo, há casos em que a mulher é incitada a aceitar sua condição de ser inferior em relação ao homem fazendo-a acreditar deveras que são naturalmente incapazes em relação ao seu oposto.  Deve-se ressaltar também que uma parcela considerável de mulheres desconsidera esses aforismos quando transformam em ação suas intenções competindo igualmente com o homem o mercado de trabalho. A insegurança e os riscos são iminentes que as tem debilitado ainda mais por permanecerem nesse campo de batalha.
Os motivos; pensamos por querer o mesmo prestigio social, os mesmos postos de trabalho, êxito, (...). Compete, mas precisa quase sempre do aval e da razão masculina. Sua competência passa pelo crivo do homem, e não menos importante, se vê obrigada a escutar dos machos que “és boa porque te aceitamos”, “porque te deixamos trabalhar junto a nós”... É o mesmo que dizer competência assistida.
Muitos são os movimentos que abraçam a causa feminista quando reivindicam, pedem mais para as mulheres. Quem se esqueceria das madres de La Plaza de Mayo mães que reivindicam os corpos dos filhos desaparecidos durante regime militar (1976- 1983) na Argentina? Rememorando Sófocles nos colocamos diante de sua personagem Antígona que além do seu aspecto de gênero, representa a força de resistência da mulher que diz “não” ao poder estabelecido, que fala por igual com o diferente, como traz consigo o modelo das virtudes familiares. Antígona encarna incontestavelmente a afirmação pura. Afirmação de uma liberdade que não reconhece para si outro limite e outro mestre senão a morte do que viver uma vida de concessões e submissão.
Muito se falam que a verdadeira conquista da mulher tem como endereço a sua própria alma. E para tanto, não vejo por ora, um movimento sequer que reivindique um caminho para a alma da mulher, se houvesse não haveria mais motivo para concorrência.
Curioso é que ao cabo de tanta discussão, homem e mulher se tornam unidades quando se assumem verdadeiramente. É cômico, mas é verdadeiro que na alma de toda mulher, há algo de homem e vice-versa. A alma do homem tende para ação, a mulher naturalmente é muito introvertida o que a torna conservadora, prática, intuitiva, sensível (...).
Talvez o motivo que coloque a mulher nesse recipiente de desigualdade, seja o fato de que ela nos últimos tempos tem assumido um papel de masculinidade pisando em terreno não apropriado, lutando em guerra que não é sua, sem saber quais armas usar e, sobretudo, quem são seus inimigos. O problema da mulher neste sentido é vestir-se de herói masculino lutando numa guerra que não é sua.
É seguindo numa senda de incertezas e num descompasso estonteante ao estilo de dois pra frente e um para trás que o gênero vai “provocando” seu lugar na sociedade, sobretudo na sonoridade de um “dói um tapinha não dói” ou “só as cachorras” não menos que isso os jornais mostraram o modo divertido e libidinoso que o presidenciável FHC encontrou para agradar seus convidados expondo a figura de uma mulher seminua com vestes de carnaval dançando sorridente para agradar o freguês ilustre. A concupiscência veste máscara e vez ou outra se mostra com ares mais inusitado.
Entre ranços e avanços e no espaço deixado de incertezas o que a mulher deve fazer é aceitar-se a si mesma: ser mulher não é ser nenhuma maldição como atestam os ideólogos de determinadas tradições religiosas. A mulher tem funções múltiplas; ela é mãe, esposa e amante. Sendo isso, a mulher não pode se sujeitar a perder a sua identidade e se a perdeu, trate de reencontrá-la. Faça como Antígona ou as madres de La Plaza de Mayo que lutam de cabeça erguida tendo como arma o corpo e a alma de mulher.
Contudo, falar da alma da mulher faz-se apropriar-se de antigas civilizações que a considera como Vida, Energia, como Amor e como Sabedoria. Quatro características, quatro armas que a coloca em condição ímpar de destaque. A alma da mulher é vida em todos os sentidos não só porque pode gerar, mas porque está apta para ajudar a viver e é uma excelente educadora. Em suas mãos está o afago, a capacidade de dar a vida e mantê-la. Pode solucionar o impossível e silenciar com o amor o desafeto.
Chegará um dia que não precisaremos de um dia internacional da mulher, pois saberá ela ser dona de si e dona de seus valores, todos os anos e sempre. Já vislumbramos num horizonte tão íntimo a sua condição de protagonista de sua própria vida, para que sinta suas forças e capacidade para fazer muita coisa por si mesma.
O que convém agora e sempre é conjugar a alma do homem e da mulher indistintamente para que desfrutemos de um mundo mais humano portador de uma convivência comum e solidária capaz de refletir positivamente na educação dos nossos filhos e filhas hoje e sempre.





3 comentários:

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  2. Fyllos ingenii largitor venter disse...
    Adorável e amado ISRAEL,


    Adorei seu texto.Nós mulheres,somos águias e,pássaros presos.Somos o tudo e o nada.Há bem da verdade,nossa alma é um infinito particular,e pouquíssimos se encontram no labirinto que,queima e se perpétua em amor,prazer e liberdade!

    Saudades de ti!

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  3. Diante do que acabo de ler aqui, também das suas palavras a mim no blog, diante do que diz de vc uma amiga querida, peço que perdoe minha ousadia ao me dirigir a vc como: Amado Israel.

    Amado Israel,

    Acho que o que falta à mulher de hoje é o respeito próprio, fé e encantamento em si mesma. Ontem eu falava disso à minha filha.

    É preciso se amar, reconhecer o poder que temos em nossas mãos, encarar o mundo e a sociedade de frente, direto e firme, olhos dentro dos olhos sem medo e sem nenhuma vergonha. Fazer da coragem e do orgulho de sua condição de feminilidade uma bandeira. Sem jamais perder a doçura. Sem perder a dignidade, sem perder a compaixão.

    A história nos mostra em seu decorrer exemplos de mulheres fortes, altivas, doces e, por isso mesmo, belas mulheres. Mulheres que foram muito além de seu tempo e se fizeram ser respeitadas.
    Penso que uma postura assim fará com que a mulher tome pra si o que é seu de direito.

    Feito isso, Amado Israel, estar livre para se ajoelhar aos pés de seu homem e fazer com que ele esteja no topo do mundo, porque é lá o lugar de ambos, não importa que ela lhe sirva de tapete para o prazer de ambos.

    Não pense que este é um pensamento que não dignifique. A terra, representante maior do feminino, mãe de todos nós, da qual viemos e para a qual partiremos, mantem-se silenciosamente como tapete e nem por isso perde seu poder.

    Me perdoe se fui prolixa. Foi saindo assim da cabeça direto para as teclas e nem vou revisar o que deixo aqui pra vc para não correr o risco de ser cuidadosa com meus pensamentos.

    Adorei sua visita, volte sempre. Conte com a minha presença sempre aqui. Amo filosofia, apesar de conhecer pouco. Gostaria muito de poder conversar contigo.

    Doces besos, querido Israel!

    P.S.: Devido ao caráter erótico do meu blog não sei se será conveniente colocar um link para o seu. Se puder, me diga por favor. Mas, entenderei se preferir que não o faça.

    *;-)

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