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Filósofo educador. "(...) a felicidade não é o somatório de todos os prazeres de que logramos desfrutar menos todas as dores que não conseguimos evitar e, sim, uma certa qualidade de vida".

sábado, 13 de junho de 2009

Cotas Raciais: boa intenção com sinais de retrocesso. O perigo de uma política ufânica baseada na raça

A escravidão foi um fato econômico e não propriamente um fato racial. Afinal de contas, o que querem com essa questão quando se colocam em discussão as cotas em universidades para uma parte da população afro-decendentes? O que diz a história? Onde reside a gênese dessa questão?Ao dizer que a escravidão foi um fato econômico, isso implica historicamente que os europeus foram vistos como os grandes vilões por participarem ativamente na comercialização dos negros escravos. Entretanto, tem relatos curiosos que diz exatamente o contrário daquilo que foi apresentado nos manuais didáticos até o momento, ou seja, de que os potentados de grandes impérios africanos vendiam seus súditos e outros povos negros vencidos em guerras diretamente aos europeus.
Comumente setores importantes da sociedade como escolas e outros segmentos são poucos transparentes sobre a realidade desse processo histórico cultural, que, aliás, assume um caráter legal, pois não havia um parâmetro que indicasse ilegalidade a quem quer que seja possuir escravos, bastava ter dinheiro e status social privilegiado para possuí-los.
Em tempo, não podemos deixar de pôr em evidência o trágico efeito da Lei Áurea. Fato que não escapa a toda controvérsia. Ao dar a liberdade, não deram as condições necessárias para que os ex-escravos pudessem assumir com dignidade a experiência de viver a liberdade e a sua plena humanidade. Deram a liberdade, mas não lhes ensinaram o que poderiam dela fazer.
Não sem motivos, sabemos que os conquistadores exerceram violência terrível não somente aos negros, mas estenderam aos nativos, não lhes respeitando a dignidade humana. A razão no fundo é porque os europeus não consideravam os índios e africanos um “outro” diante de si, mas objeto de conquista e ganância. Assim pensado, não se discutiria a questão das cotas na perspectiva de uma reparação histórica respaldada em conflitos raciais, mas falaríamos então em ética.
Em termos abstratos, a Declaração dos Direitos Humanos da ONU já estendeu o conceito de outro (objeto da ética) a todo o ser humano, e para nós, a constituição brasileira (88) artigo 5º é categórica quando diz que todos deverão ser tratados iguais perante a Lei, indistintamente.
Voltemos ao cerne do assunto. Estabelecer direitos jurídicos distintos baseados na cor da pele, não estaria dando amparo legal à crença que negros e brancos deveriam ser tratados diferentes? Os mais extremistas dizem que a cota racial é um forma de reparação ao negro marginalizado nesse país. Apriori sabemos que a inteligência não tem relação ou conotação alguma com a cor da pele, se tem, até o presente momento não nos foi apresentado nada cientifico. Pois não nos causa espanto entender que já se tornou quase uma cultura na nossa sociedade reparar danos morais e emocionais com a paga de um valor expresso em moeda. A universidade é essa moeda. E o problema, devemos esquecê-lo? É motivo de ampla discussão a eficácia dessa medida.
As experiências em outros países não foram nada amigáveis, fomentaram conflitos sangrentos e ódios latentes. Tomar a raça como processo pode ser um retrocesso perigoso. Contudo, fica muito evidente que há por traz um grande interesse econômico por parte de um grupo extremista enxergando a possibilidade de divisas na imensa população negra espalhada por este país. Podem estar fomentando o “voto racial”. Discurso de fundo emocional e ideológico tipicamente idiossincrático; talvez partidarista?
Estão importando um modelo dos EUA para o Brasil que, por sua vez, apresenta realidade totalmente distinta. Muito pouco ou quase nada se avançará se continuarem negando que o problema não resida nas diferenças sociais e num modelo arcaico do ensino educacional. Aliás, o ensino público nos últimos anos tem assumido a condição flagrante de um tumor maligno que alastra todo mal para a sociedade. Falência consumada, atestado de óbito de uma instituição humanamente importante para uma nação.
Cotas raciais em universidades têm tirado o sono de muitos e recebido todas as luzes de atenção possíveis. A questão racial assume um caráter maniqueísta; digo isto porque pode tender para o bem, mas pode levar para o mal se for tratada apenas com a intenção de reparação e inclusão social como querem.
Nesse sentido, até que poderiam conceber a questão como um fato social e não propriamente racial. Pois nesse mundo coabitam juntos negros pobres e brancos paupérrimos que sonham os mesmos sonhos e reivindicam os mesmos direitos. Sem falar nos desvalidos espalhados pelos rincões desse país.
Essa é uma questão ampla e requer maiores discussões; como diz o sociólogo Demétrio Magnoli, cota racial é band-aid, é medida paliativa e aceitar isso é manter acesas as raízes da ignorância e da intolerância. Estão colocando na boca das pessoas um assunto que é de interesse de uma minoria ou grupos que querem ascender ao poder. Ideologia ufânica e em princípio irresponsável que ao dividir, tende a gerar conflitos, guerras e porque não mortes sem precedentes.
Pregar isto em sala de aula, em igrejas ou onde quer que seja é uma forma absurda de ensinar nossos jovens, é estar reforçando a idéia de barbarismos e de antihumanitarismo. O curioso é que por traz dessa questão há lideres religiosos que sabem de cor os riscos caso se levem a efeito essas medidas. Não seria mais apropriado e menos traumático para a sociedade se se tratasse a questão de uma forma mais dialética e sincera? - O diálogo traduz toda e qualquer experiência humana fundamental, uma vez que é na relação com o outro que nós nos reconhecemos. Questão ética. O diálogo se instaura na medida em que há uma atitude de abertura e acolhimento do outro, quando se reconhece o outro como sujeito portador de uma liberdade e dignidade fundamentais.
O ideal mesmo seria que tais extremistas e em especial alguns religiosos colocassem em prática o amor de Deus como a única forma capaz de salvaguardar a humanidade desses sofrimentos e barbarismos, não obstante a isso, poderiam até mesmo fazer jus do diálogo religioso para então sedimentar de vez e para sempre os erros do passado.
O autêntico diálogo, aqui e em especial, o inter-religioso deve ser responsável por não admitir a continuidade do arbítrio, da violência e o sofrimento injusto entre os povos. Pauta-se na dinâmica da cooperação, do entendimento e da paz, não só no âmbito da igreja, mas também para o futuro da família humana. O diálogo sincero supõe a aceitação do dado, da diferença, do respeito à liberdade de consciência e religião.
Por outro lado não há como reconhecer ou vê sentido no diálogo visto e praticado para o si mesmo, apenas pelo caráter político baseado em estatísticas esterilizado de qualquer intervento salvifico.
Assim, põe-se a pensar no diálogo inter-religioso que deve sempre permanecer em consonância com o Evangelho de Cristo e para ele orientado. Penso que há tantos outros problemas além das cotas para se incluir e que ainda não foram discutidos. Está ai um regime neoliberal, onde migrantes indocumentados, massas imensas anônimas de miseráveis que não cabem na categoria de outro, famílias inteiras de mendigos morando nas ruas, os pobres, os índios, (...) onde todos escapam do imperativo ético de tantos do atual sistema.
Por fim, cota racial é uma linguagem abominável, essa política deve precisamente ser extirpada de vez do nosso vocabulário por se tratar de uma questão unilateral, problemática e extremamente perigosa e geradora de preconceitos.
Paz e bem!


Pausa para reflexão: Martins, Israel. 2009. Publicação a partir de seminário e entrevistas. Disponível também no endereço eletrônico - Blog. WWW.educeacao.blogspot.com






3 comentários:

  1. Lindo amei seu texto, sem dúvida ainda Israel passamos por uma quebra incrível de paroxismos e pré-conceitos fincados em bases ilógicas da condição humana.A humanidade evolui em suas inúmeras formas de venda, no entanto, quando bem dizer em concretizar a matéria orgânica o homem em especial é ridícula e ainda muito mesquinha.

    Beijos meu lindo!!

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  2. É simplesmente lindo, observar o crescimento e maturidade de nossos amados e amáveis amigos. Aqui não cabe uma avaliação sobre o âmago do certo e errado, mas antes a admiração do partilhar este tão seu momento.
    Um beijo em seu coração.

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  3. Protecionismo, Paternalismo, Preconceito... ABOMINO!

    É como a Delegacia de Crimes Contra a Mulher... Pra que isso??? Não era mais saudável fazer as delegacias comuns funcionarem direito para homens, mulheres, crianças, adolescentes e idosos???

    Medidas como estas ao invés de acabar com as diferenças, apenas as aumentam. Detesto todo tipo de discriminação. Parecem também cabide de empregos... tzc.. tzc... tzc.....

    Acho que hj estou muito brava... hehehe...

    Besos de mel!

    *;-)

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