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Filósofo educador. "(...) a felicidade não é o somatório de todos os prazeres de que logramos desfrutar menos todas as dores que não conseguimos evitar e, sim, uma certa qualidade de vida".

terça-feira, 16 de novembro de 2010

O que fazemos aos outros fazemos a nós mesmos


Penso muito na compreensão singular dos limites; na subjetividade como liberdade; na ética como referência capaz de garantir ao homem a sua própria humanidade. Compreensão que se levada em consideração à perspectiva do diálogo e do entendimento torna viável nossa percepção de sermos contingentes e nunca acabados. O ser humano é, em cada existência e em cada momento um misto de permanência e também do imediato que resulta na multiplicidade de possibilidades.
Penso nessa compreensão – no seu caráter subjetivo e impessoal com a convicção de que todas as pessoas têm um brilho próprio e capacidades para se alterar e transformar o mundo a começar pela reforma do próprio pensamento.
Muito me preocupa a atual conjuntura social e econômica que estamos vivendo e a que estamos por viver; um sentimento profundo de perda de identidade e crise de valores que vem se arrastando geração pós geração e nós não percebemos o risco deletério que isso nos tem causado, causado nas famílias, na Escola, no trabalho, nas religiões e, sobretudo com o meio ambiente natural.
Somado tudo isso, uma verdadeira crise ética tem permeado nossos ambientes sociais e instaurado um sentimento niilista desenfreado e audacioso que nos tem impedido de refletir a respeito do que fazemos na vida e com a vida.
Posto que a vida seja um Dom de Deus e que dela somos apenas meros usufrutuários, temos a obrigação moral de respeitar a vida em sua totalidade seja ela cósmica, política e religiosa. Auscultar a vida daqueles que não têm voz e vez e sobretudo dignidade num mundo assumidamente desigual.
E viver com dignidade implica respeitar e dar valor ao que é humano, aceitar e respeitar os outros ou os vários outros na totalidade de suas singularidades. Saber acolher o outro e partilhar de cada experiência subjetiva a tentativa de poder construir um universo simbólico onde pudesse reinar a paz, o carinho e o respeito comum do um para com o todo. É esse ambiente que precisamos criar e cuidar com muita ternura em todas as esferas da vida, seja na Escola, seja na rua que caminhamos, seja nas manifestações culturais enfim cuidar e respeitar pessoas e os elementos da Terra num processo de identificação construídos na relação de alteridade - nós e os outros edificando, assim, a paz entre os povos da Terra.
As razões dessa reflexão se revestem de uma preocupação que não é só minha, mas que é de toda sociedade. Causa-nos muita indignação a onda de violência e mal estar vividos por nossa gente nesse país, violência que se reveste de múltiplas máscaras como a ocorrida nos últimos dias -15/11/10 - em são Paulo. A bestialidade na cabeça de uns jovens arrogantes e mal educados que investiram de forma violenta contra algumas pessoas que passavam na rua cometendo abusos e discriminação, pelo que se sabe até agora, pelo simples prazer de violentar.
Recordemos em tempo que, em 1997, em Brasília, outros jovens saíram as ruas ateando fogo nas pessoas que dormiam nas calçadas. Nessa ocasião, o índio Galdino que era uma dessas pessoas veio a óbito em função das queimaduras pelo corpo. Muda-se apenas o crime, permanece a banalização da vida. São as faces da violência!.
Esse é o reflexo da nova mentalidade, da vida corrida do nosso tempo. Falta tudo; falta amor, carinho, tempo dos pais para com os filhos, falta diálogo sincero e afeto.  Nossos filhos que abandonamos nas escolas ou até mesmo em casa entregando-os a terceiros para que cuidem da educação enquanto mantivermos ausentes, vão se tornando adultos bem como desenvolvendo o desafeto, a falta de sentimento que aos poucos vai tomando forma de ódio despertando o demônio que jaz silente na consciência de cada um indistintamente.
Aliás, tenho repetido em oportunas ocasiões que viver tornou-se uma incerteza, sobretudo num mundo competitivo e desumano onde ser pessoa humana tornou-se um risco e uma aventura da qual não sabemos que destino nos espera.
Precisamos não perder de vista a Ética e os bons costumes a ponto de podermos enxergá-los tão somente com o apoio de lunetas desejando-os como se fossem um sonho ou um artifício tão caro para nossos propósitos humanos. Precisamos pensar na Ética como uma necessidade ontológica e não satisfazermos com as sutilezas de discursos estereotipados.
Olhemos para nossa Casa, para nossa Escola e para os nossos pares como uma extensão da nossa vida em sociedade. Por conveniência ou inconveniência dispensamos muito tempo com reclamações quando pouco temos a oferecer enquanto soluções. O que temos feito para viver melhor na escola, nos lares, no trabalho, com a sociedade e com a pluralidade religiosa para criar um ambiente saudável? E é justamente por não pensarmos nessas necessidades que não aplicamos a Ética: viver bem e respeitar os diferentes pensamentos, partilhar o bem comum com toda capacidade tendo em mira a intenção de vencer os obstáculos que nos impedem de respeitar a pessoa humana, seus valores, sua cultura, sua autonomia legítima, sua autodeterminação.
Tão importante sonhar um sonho possível, é não esquecermos a condição humana; condição humana feita de contradições e antagonismos que nos dão a capacidade de sermos o que somos; corpo e espírito, de sermos sapientes e também dementes, de sermos Eros - principio de vida, e tânatos - principio de morte o oposto do que é desejo e vida. Feito isso, estaremos respeitando a vida, dando valor ao que é humano.
Quando na Escola, ou em todos os ambientes sociais soubermos respeitar os limites dos outros, exercitarmos a dialogicidade como uma forma imperativa de solucionar os equívocos e arrazoados do universo político-social, poderemos nos orgulhar de viver a liberdade e a justiça como sinônimos, aprendendo, portanto a dar valor ao que é humano, isto é, aos erros e acertos, aquilo que é bem ou aquilo que é mal. Somente assim poderemos nos orgulhar de viver uma vida digna de ser vivida e sermos cidadãos reconhecidos em todas as nossas dimensões físicas e espirituais.
Seria uma traição as nossas conquistas feitas de lutas e sacrifícios deixarmos os desejos econômicos ou os valores supremos de um regime capitalista hostil a toda forma de vida cristã apagar o Eros que há em cada um de nós, o desejo da mudança e o sabor de partilhar as coisas simples da vida. Somos bombardeados pelo desenfreio de uma política ufanica que aos poucos vai separando famílias, criando instabilidades nos empregos, criando guetos na juventude adoecendo nossas esperanças.
Por tudo isso, precisamos olhar para além de nós mesmos, a fim de compreender o que há de bom nos outros; contribuir eminentemente para um desenvolvimento e crescimento justo sem a chancela da arrogância e das formas pequenas de se ver o mundo.
Paz e bem!

Convite a Reflexão: Israel Martins
Novembro, 15.2010, Belo Horizonte - MG







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