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Filósofo educador. "(...) a felicidade não é o somatório de todos os prazeres de que logramos desfrutar menos todas as dores que não conseguimos evitar e, sim, uma certa qualidade de vida".

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

EDUCAÇÃO E CAPITALISMO: Postergar o presente. Adiar o futuro

Vivemos numa época de efervescência de especialização em virtude do extraordinário desenvolvimento da ciência e da tecnologia bem como da conseqüente e sistemática fragmentação do conhecimento em incontáveis avenidas e compartimentos.
Não haveríamos de negar que a especialização traz suas benesses. Possibilita pesquisa e experimentos, traz avanços e é a força motriz do progresso. Mas também dificulta os liames culturais que permitem a coexistência, a comunicação e os laços de solidariedade construídos sociologicamente. Podendo, se mal pensada, provocar a separação de pessoas em guetos culturais ou super-especialistas, confinados em desníveis de linguagens, códigos de conduta e pelo conhecimento particularizado.
O que nos causa preocupação não é tanto esse período histórico sem precedentes, mas e, sobretudo, a cumplicência das autarquias governamentais ao adotar suas políticas ortodoxas interligadas a um regime neoliberal quase sempre desastroso para os anseios de nossas sociedades.
Posto isso, a sociedade fica a mercê e entregue aos requintes de sarcasmos dos nossos parlamentares quando contracenam em plenário fazendo-se de grandes interessados em resolver as demandas sociais.
Se por um lado, temos por parte dos nossos parlamentares uma visão míope que os impedem de ver a realidade social do nosso país, conforta-nos a visão global ou pelo menos preocupada de determinado viés intelectual em querer por à luz da reflexão toda uma demanda de problemas relevantes a necessidade do nosso povo.
Nesse contexto, não podemos prescindir da onipresença de Paulo Freire com sua incansável luta por uma transformação radical no modo de se esperançar a tão sonhada transformação deste país alavancada pela Educação quando diz:
"Não é possível refazer este país, democratizá-lo, humanizá-lo,torná-lo sério, com adolescentes brincando de matar gente, ofendendo a vida, destruindo o sonho, inviabilizando o amor. Sea educação sozinha não transformar a sociedade, sem elatampouco a sociedade muda."
Já não é sem tempo para que os problemas sociais deste país que tanto tem assombrado nossas sociedades sejam definitivamente analisados por pessoas mais responsáveis. Como bem diz Freire, uma verdadeira marcha pela decência e superação da sem-vergonhice que se instalou nesse país e, sobretudo, uma re-moralidade de o nosso agir e pensar as coisas humanas tem que ser relevante para já.
O comodismo intelectual e moral instalados neste país devem ser vistos como um problema social e por isso mesmo, não podemos admiti-los como coisas normais.
Militante na defesa da boa formação do educador-professor, Paulo Freire propõe que estes antes de tudo possam ter clareza da realidade que os cercam, saibam intensamente da história do seu país e de seu povo e concomitantemente cônscios da responsabilidade de zelar pela natureza individual, pelo desejo de saber aprender e o porquê do aprender de cada individuo entregue as suas responsabilidades.
Neste ínterim, é apontada a importância da Educação Diretiva, ou seja, a possibilidade da prática formativa capaz de enxergar as coisas com mais profundidade sejam elas de qual área for, mas que tenham a mesma intenção; a de formar cidadãos com senso crítico e não meramente profissionais que almejem notabilidade na cadeia social. Isto é, a primazia pelo instrucionismo desmedido que marca o país décadas a fio.
De um modo particular muito me preocupa as atuais condições de trabalho que os nossos educadores sistematicamente estão sendo submetidos. Não se pode pretender humanizar nossos jovens conforme enuncia Paulo Freire se não há para os nossos preceptores uma política descente que garantam a eles o mínimo de condição para a tão sonhada democratização da cidadania.
A ausência de uma política descente (digo isso porque a que ai está não passa de um sonho, uma espécie de faz de conta arquitetada por bons tecnocratas) que para a educação implica diretamente no estimulo dos nossos educadores. Significa que eles não são pensados em suas subjetividades ou em última instância, estão sendo des-estimulados gradativamente naquilo que fazem. Deve-se ressaltar a péssima remuneração do professor acompanhada da falta de recursos físicos e pedagógicos como critérios que acabam desfavorecendo o seu entusiasmo para lecionar e não de somenos acaba transferindo toda essa situação para o rendimento do aluno. Por todos os lados uma realidade se faz presente em nossas salas de aula; um cenário confesso, um profundo sentimento niilista impregnado no psicológico dos nossos educadores reservadas as devidas condições.
O movimento grevista (Abril / Maio 2010) promovido pelos professores de Minas Gerais reacende uma preocupação clarividente no panorama vivido em nossas instituições de ensino. Se por um lado uma grande maioria militam, fazem da polis – praça pública, o lugar por excelência das grandes discussões públicas tal qual entendiam os gregos, em contrapartida, militam uma minoria que, cansados de lutas inglores e exangues escondem-se atrás de seus escudos, ora incapazes de despertar suas consciências criticas e construtivas. Rendem-se incondicionalmente a ditadura de um projeto político dissonante com nossa realidade.
Essa espécie de partido dentro das instituições de ensino tem muito pouco ou quase nada para contribuir com a formação dos nossos jovens. Pelo contrário, percebemos que a grande maioria, ainda adolescentes se sentem confusos e não sabem o porque de estarem sendo prejudicados com essas manifestações ideológicas.
Nessa oportunidade, percebemos por todos os lados um excesso de zelo missionário dos nossos educadores, porque desiludidos, agem em profunda individualidade, pensam sobremaneira nos interesses particulares sem sequer levar em consideração o valor supra-histórico das lutas sociais impregnadas na vida do homem que se inicia desde os idos da hominização perpassando pelo nazismo, regimes ditatoriais até chegar aos dias atuais. Aliás, fazer greve não é nenhum ato obsceno ou quem sabe imoral. Pelo contrário, significa o exercício efetivo da consciência critica que tanto nós os educadores cobramos dos nossos jovens. Instaura-se ai uma dicotomia: (contradição performativa) cobramos dos nossos jovens o despertar intelectivo, mas nós os professores não admitimos o questionamento sobretudo no que diz respeito a situação putrefa e degradante da qual fazemos parte.
Daí nossa premente preocupação com o estado atual da educação neste país e, sobretudo com a formação dos nossos educadores. Consequência de uma política que prima pelo instrucionismo e nega por outro lado a verdadeira missão humanizadora da educação. Formam-se bons técnico-operários, mas pecam na formação dos bons educadores que tem por desígnio despertar nos jovens o senso critico, fazê-los ascender de uma visão míope que tanto confinam suas esperanças e sonhos de uma vida melhor livres de todos os grilhões sociais.
Por isso, mais que nunca, apostamos na missão de um projeto político educacional de maior clareza e leitura de mundo que não sucumba ao sectarismo, concordes com o ufanismo de correligionários seja qual for a cor e a pluma de suas bandeiras.
Sonhamos a utopia dialogando com todos os conhecimentos. Com a arte, a literatura, com a história para quem sabe contemplarmos num futuro não muito distante, a tão sonhada eudaimonia pedagógica justificada a partir da construção e afirmação da formação intelectual e humana das pessoas desse país.

Resenha elaborada a partir de depoimentos de Paulo Freire em textos e vídeos.

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