Eu era uma criança quando morei na pacata cidade de
Rio Casca Região da Zona da Mata mineira quando vi pela primeira vez Tancredo
Neves – o Presidente eleito que não tomou posse percorrer as ruas da nossa
modesta cidade em sua campanha presidencial lá pelos idos do ano de 1984. Inconscientemente
e tomado pelo momento festivo que a cidade estava passando, saí correndo atrás
daquela carreata juntamente com meu irmão mais velho, o Abraão, ávidos para
tocarmos as mãos daquele simpático velhinho que eu assistia nas propagandas
eleitorais ao lado do meu pai.
O fato de ser criança não me restringia, às vezes de
ficar junto ao meu pai assistindo o Jornal Nacional e as campanhas eleitoreiras
das diretas que aconteciam naquela época. Lembro-me perfeitamente do esmero do
Senador Ulisses Guimarães defendendo em Plenário a necessidade das Diretas para
o fortalecimento da Democracia no nosso país, outra figura conservada em minha
memória ainda dessa época é a do Eliseu Resende adio eterno Ministro dos
Transportes que faleceu a bem pouco tempo interrompendo seu ciclo de atuação
nessa pasta tão importante para o setor rodoviário Nacional.
A boa memória que conservo até hoje da minha infância
me motivou escrever esse artigo na qual ilustro uma conversa que tive com meu
pai, na verdade uma pergunta feita a ele sob os motivos que ele tinha de não
querer se tornar um vereador como os outros homens faziam e que ele mesmo
votava. Sua resposta foi tão idiossincrática que encerrou ali mesmo qualquer
tentativa de convencimento da minha parte em relação a postura dele. Assim ele
disse; “porque o homem de Deus não deve se envolver com os assuntos da política”.
Era muito para uma criança entender, mas fiquei convencido.
Passadas duas décadas, vejo que meu pai tinha razão
sobre essa questão quando preferia apenas exercer a sua cidadania votando na
Honestidade do seu escolhido para gerir com responsabilidade os interesses da
nossa cidade do que se envolver com assuntos de interesse da política. Não me
recordo se naquela época existia na nossa cidade uma bancada religiosa preocupada com os interesses da igreja. Envolver-se com a política
naquela época era de fato uma situação muito complicada posto que o Brasil
estava passando por um processo de transição, isto é, saindo de uma época
obscura da nossa história para uma nova fase da política Nacional que era a
Democracia.
O mundo da política é um universo reservado as
negociatas, aos interesses partidários, podendo inclusive estar submetido às
corrupções monstruosas que atestam o demônio que habita os homens de vida pública
que desejosos pelo poder e pelas benesses que essa atividade lhes proporciona
sobrepõem o interesse público ao jogo de suas conveniências.
Assim, trazendo o passado ao presente, sinto muito
orgulho do meu velho pai, homem evangélico e austero com seus valores que a
despeito dessa questão jamais demonstrou fraqueza e por isso mesmo muitos
souberam dar-lhe o devido respeito como acontece até hoje quando vejo o amigo-cliente
e ex-prefeito da cidade ir visitá-lo em casa devido a sua debilitação física.
Não quero com isso dizer que o meu pai foi um caso
raro de pessoa que soube defender com esmero seus princípios religiosos abdicando
das possíveis benesses que obteria uma vez envolvido na política, pelo
contrário, imagino que houve outros tantos que pensaram como ele pensou e que
nem por isso deixaram de ser felizes.
O passado nos atesta os Ranços e Avanços que
conhecimentos tão essenciais para nossas vidas como a Religião e Política
trouxeram para a humanidade exatamente pela indefinição do campo de atuação que
ambos tinham em relação à sociedade. Em ambos os casos prevaleciam os
interesses econômicos, as expansões territoriais e a busca cega pelo poder
transformado em força de ação. O progresso científico não raras vezes foi
subjugado e submetido ao exame rigoroso da lógica religiosa e em muitos casos
idéias mais avançadas foram consideradas inadequadas aos princípios da igreja e
por essa razão foram silenciadas ou queimadas em praça pública.
Hoje sabemos que a igreja posicionou-se de forma
paradoxal e não se furtou da oportunidade de promover perseguições sanguinárias
e ódios latentes contra aqueles que não aderiam a lógica cristã. A igreja
assumiu uma postura maniqueísta; itinerando entre o bem e o mal, usou de várias
prerrogativas abusivas contra a dignidade da pessoa humana, contra a liberdade
em todos os sentidos.
Posições religiosas como essas voltam a reluzir nos
altiplanos do Congresso Nacional sob a égide do Pastor Marco Feliciano
Presidente da Comissão dos Direitos Humanos acusado de dar declarações racistas
e homofóbicas em redes sociais - (“a podridão dos sentimentos dos homoafetivos
levam ao ódio, ao crime, à rejeição”) e opiniões preconceituosas a respeito da
emancipação da mulher no Brasil, diz ele, “quando você estimula uma mulher a
ter os mesmos direitos do homem, sua parcela como mãe começa a ficar anulada”,
declarou ele.
Voltando a minha infância, o que o meu pai queria
dizer é que o homem de Deus deve estar livre para seguir os caminhos da
verdade, livre do pecado e da maldição das tentações humanas. O homem de Deus é
um homem moral e não pode se valer de dupla personalidade, não pode vestir máscaras
para encobrir suas meias verdades ou pregar em falso atentando contra a dignidade
da pessoa humana, não pode usurpar da inocência dos leigos e dos desvalidos
para manter-se fortalecido à frente de uma igreja. Deus é amor. A palavra de
deus fala ao coração, a do homem que é cheia de ideologias, fere o coração.
O Papa Francisco, Sexta 19 de Abril durante a homilia
da Missa presidida na capela da casa Santa Marta diz que os ideólogos respondem
a Palavra somente com a cabeça porque, para eles, afirmou o Pontífice, "é
tudo um problema de intelecto. "E quando entra a ideologia, na Igreja,
quando entra a ideologia na inteligência do Evangelho, não se entende mais
nada", completou Ele.
O Papa Francisco entende que os ideólogos falsificam
o Evangelho e para nosso desespero, o Pastor Feliciano parece não ter
conhecimento do que pensa e fala. Diz ainda o Papa: "esses ideólogos como
vimos na história da Igreja - acabam por se tornar intelectuais sem talento,
moralistas sem bondade. Nem falemos de beleza, porque disso eles não entendem
nada.”.
Dirigido ao público o Papa
fez um pedido: "Peçamos hoje ao Senhor pela Igreja: que o Senhor a liberte
de qualquer interpretação ideológica e abra o coração da Igreja, da nossa Mãe
Igreja, ao Evangelho simples, àquele Evangelho puro que nos fala de amor, que
traz o amor e é tão bonito! E que nos torna mais belos, com a beleza da
santidade. Rezemos hoje pela Igreja!". (JS)
Posto tudo isso, por que a recusa de um
homem dito servo do Senhor ignorar o apelo público para que abandone sua função
em razão das constantes declarações intempestivas e irresponsáveis contra a
vida humana? Não estaria faltando humildade na atitude desse senhor que tem por
dever falar da humildade? Ou está pesando o prejuízo financeiro ou a vergonha
moral de abandonar o cargo que ao meu ver não foi por merecimento, e sim pela
cultura do apadrinhamento tão comum no cenário político Nacional.
Por:
Israel Martins. 20 de Abril de 2013.
Disponível
também em: www.educeacao.blogspot.com
Apoio
didático: Canção Nova. http://papa.cancaonova.com/igreja-seja-liberta-de-interpretacoes-ideologicas-pede-papa/
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