Quem sou eu

Minha foto
Divinopólis, Minas Gerais, Brazil
Filósofo educador. "(...) a felicidade não é o somatório de todos os prazeres de que logramos desfrutar menos todas as dores que não conseguimos evitar e, sim, uma certa qualidade de vida".

domingo, 21 de abril de 2013

POLÍTICA E RELIGIÃO. IDEOLOGIA NA IGREJA FALSIFICA O EVANGELHO


Eu era uma criança quando morei na pacata cidade de Rio Casca Região da Zona da Mata mineira quando vi pela primeira vez Tancredo Neves – o Presidente eleito que não tomou posse percorrer as ruas da nossa modesta cidade em sua campanha presidencial lá pelos idos do ano de 1984. Inconscientemente e tomado pelo momento festivo que a cidade estava passando, saí correndo atrás daquela carreata juntamente com meu irmão mais velho, o Abraão, ávidos para tocarmos as mãos daquele simpático velhinho que eu assistia nas propagandas eleitorais ao lado do meu pai.
O fato de ser criança não me restringia, às vezes de ficar junto ao meu pai assistindo o Jornal Nacional e as campanhas eleitoreiras das diretas que aconteciam naquela época. Lembro-me perfeitamente do esmero do Senador Ulisses Guimarães defendendo em Plenário a necessidade das Diretas para o fortalecimento da Democracia no nosso país, outra figura conservada em minha memória ainda dessa época é a do Eliseu Resende adio eterno Ministro dos Transportes que faleceu a bem pouco tempo interrompendo seu ciclo de atuação nessa pasta tão importante para o setor rodoviário Nacional.
A boa memória que conservo até hoje da minha infância me motivou escrever esse artigo na qual ilustro uma conversa que tive com meu pai, na verdade uma pergunta feita a ele sob os motivos que ele tinha de não querer se tornar um vereador como os outros homens faziam e que ele mesmo votava. Sua resposta foi tão idiossincrática que encerrou ali mesmo qualquer tentativa de convencimento da minha parte em relação a postura dele. Assim ele disse; “porque o homem de Deus não deve se envolver com os assuntos da política”. Era muito para uma criança entender, mas fiquei convencido.
Passadas duas décadas, vejo que meu pai tinha razão sobre essa questão quando preferia apenas exercer a sua cidadania votando na Honestidade do seu escolhido para gerir com responsabilidade os interesses da nossa cidade do que se envolver com assuntos de interesse da política. Não me recordo se naquela época existia na nossa cidade uma bancada religiosa preocupada com os interesses da igreja. Envolver-se com a política naquela época era de fato uma situação muito complicada posto que o Brasil estava passando por um processo de transição, isto é, saindo de uma época obscura da nossa história para uma nova fase da política Nacional que era a Democracia.
O mundo da política é um universo reservado as negociatas, aos interesses partidários, podendo inclusive estar submetido às corrupções monstruosas que atestam o demônio que habita os homens de vida pública que desejosos pelo poder e pelas benesses que essa atividade lhes proporciona sobrepõem o interesse público ao jogo de suas conveniências.
Assim, trazendo o passado ao presente, sinto muito orgulho do meu velho pai, homem evangélico e austero com seus valores que a despeito dessa questão jamais demonstrou fraqueza e por isso mesmo muitos souberam dar-lhe o devido respeito como acontece até hoje quando vejo o amigo-cliente e ex-prefeito da cidade ir visitá-lo em casa devido a sua debilitação física.
Não quero com isso dizer que o meu pai foi um caso raro de pessoa que soube defender com esmero seus princípios religiosos abdicando das possíveis benesses que obteria uma vez envolvido na política, pelo contrário, imagino que houve outros tantos que pensaram como ele pensou e que nem por isso deixaram de ser felizes.
O passado nos atesta os Ranços e Avanços que conhecimentos tão essenciais para nossas vidas como a Religião e Política trouxeram para a humanidade exatamente pela indefinição do campo de atuação que ambos tinham em relação à sociedade. Em ambos os casos prevaleciam os interesses econômicos, as expansões territoriais e a busca cega pelo poder transformado em força de ação. O progresso científico não raras vezes foi subjugado e submetido ao exame rigoroso da lógica religiosa e em muitos casos idéias mais avançadas foram consideradas inadequadas aos princípios da igreja e por essa razão foram silenciadas ou queimadas em praça pública.
Hoje sabemos que a igreja posicionou-se de forma paradoxal e não se furtou da oportunidade de promover perseguições sanguinárias e ódios latentes contra aqueles que não aderiam a lógica cristã. A igreja assumiu uma postura maniqueísta; itinerando entre o bem e o mal, usou de várias prerrogativas abusivas contra a dignidade da pessoa humana, contra a liberdade em todos os sentidos.
Posições religiosas como essas voltam a reluzir nos altiplanos do Congresso Nacional sob a égide do Pastor Marco Feliciano Presidente da Comissão dos Direitos Humanos acusado de dar declarações racistas e homofóbicas em redes sociais - (“a podridão dos sentimentos dos homoafetivos levam ao ódio, ao crime, à rejeição”) e opiniões preconceituosas a respeito da emancipação da mulher no Brasil, diz ele, “quando você estimula uma mulher a ter os mesmos direitos do homem, sua parcela como mãe começa a ficar anulada”, declarou ele.
Voltando a minha infância, o que o meu pai queria dizer é que o homem de Deus deve estar livre para seguir os caminhos da verdade, livre do pecado e da maldição das tentações humanas. O homem de Deus é um homem moral e não pode se valer de dupla personalidade, não pode vestir máscaras para encobrir suas meias verdades ou pregar em falso atentando contra a dignidade da pessoa humana, não pode usurpar da inocência dos leigos e dos desvalidos para manter-se fortalecido à frente de uma igreja. Deus é amor. A palavra de deus fala ao coração, a do homem que é cheia de ideologias, fere o coração.
O Papa Francisco, Sexta 19 de Abril durante a homilia da Missa presidida na capela da casa Santa Marta diz que os ideólogos respondem a Palavra somente com a cabeça porque, para eles, afirmou o Pontífice, "é tudo um problema de intelecto. "E quando entra a ideologia, na Igreja, quando entra a ideologia na inteligência do Evangelho, não se entende mais nada", completou Ele.
O Papa Francisco entende que os ideólogos falsificam o Evangelho e para nosso desespero, o Pastor Feliciano parece não ter conhecimento do que pensa e fala. Diz ainda o Papa: "esses ideólogos como vimos na história da Igreja - acabam por se tornar intelectuais sem talento, moralistas sem bondade. Nem falemos de beleza, porque disso eles não entendem nada.”.
Dirigido ao público o Papa fez um pedido: "Peçamos hoje ao Senhor pela Igreja: que o Senhor a liberte de qualquer interpretação ideológica e abra o coração da Igreja, da nossa Mãe Igreja, ao Evangelho simples, àquele Evangelho puro que nos fala de amor, que traz o amor e é tão bonito! E que nos torna mais belos, com a beleza da santidade. Rezemos hoje pela Igreja!". (JS)
Posto tudo isso, por que a recusa de um homem dito servo do Senhor ignorar o apelo público para que abandone sua função em razão das constantes declarações intempestivas e irresponsáveis contra a vida humana? Não estaria faltando humildade na atitude desse senhor que tem por dever falar da humildade? Ou está pesando o prejuízo financeiro ou a vergonha moral de abandonar o cargo que ao meu ver não foi por merecimento, e sim pela cultura do apadrinhamento tão comum no cenário político Nacional.

Por: Israel Martins. 20 de Abril de 2013.

Disponível também em: www.educeacao.blogspot.com


    

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Aviso: o proponente desse blog está expressando sua opinião sobre o tema proposto, e esperamos que as opiniões nos comentários sejam respeitosas e construtivas. O espaço abaixo é destinado para debater o tema e não criticar pessoas. Ataques pessoais não serão, de maneira nenhuma, tolerados, e nos damos o direito de excluir qualquer comentário ofensivo, difamatório, calunioso, preconceituoso ou de alguma forma prejudicial a terceiros, assim como textos de caráter promocional e comentários anônimos (sem um nome completo e e-mail válido).