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A educação, como atualmente é pensada não passa de um treinamento brutal com o propósito de preparar vastos números de jovens, no menor espaço e tempo possíveis, para se tornarem usáveis e abusáveis, a serviço do governo, dizia Nietzsche.
Para a questão que se segue, sinalizaremos nossas atenções ainda que em breve passagem para os séculos XIX-XX época em que o Brasil começar a sofrer os impactos das grandes revoluções sociais, sobretudo na área educacional.
Marcado pelo advento das grandes invenções tecnológicas e industriais, o século XIX já nos anos finais pavimentou e preparou todo um caminho para ulteriores transformações e tomadas de decisões. O progresso ganha ares precisos e começa então a sucumbir imperiosamente à sociedade que outrora adormecia um sono ingênuo e despreocupado. Nesse ínterim, o Brasil sob a influencia européia começa a protagonizar o cenário das grandes segregações sociais, dando partida, assim, no lento, mas gradual processo de especialização – tecnicização e recolocação de papéis sociais, o descompasso do homem com a natureza entre outras conseqüências.
Nesse ínterim, a educação começa a sofrer variação e inversão de valores; a escola que antes tinha por desígnio a formação intelectual e humana se vê recalcada ao sabor de uma inteligência reducionista- fragmentada e mecanicista e, diga-se de passagem, entregue aos ditames do capitalismo desenfreado.
Assim, no bojo dessa racionalidade, reforçado por correntes intelectuais como a Marxista que diagnosticou a relação com o capital como um novo sentido para o individuo que foi transformado em matéria viva, coisificado para o bom funcionamento estatal e por isso mesmo despojado de sua condição de sujeito.
O Estado com seu coração silente se sobrepõe ao individuo e fomenta uma rigorosa logística na formação e adaptação de pessoal, patrocinando o setor industrial com matéria humana engenhosamente arquitetada (as escolas técnicas) para fins diversos. Em tempo, diríamos que o individuo não é nenhum repositório para idéias dominantes de uma época; pelo contrário, a sua virtude e fortuna residem naquilo que ele pode efetivamente pensar a sua própria experiência e produzir, a partir dela novas visões e manifestar novos comportamentos.
Precisamos mais que nunca pensar e re-pensar com seriedade a educação do futuro; a educação que queremos para nossos filhos e para futuras gerações. Aliás, esse futuro já está adiado a centenas e centenas de anos e mesmo assim, nossos governantes e, sobretudo nós os educadores não nos furtamos da oportunidade de ficar falando desse futuro a d i a d o sempre como se fosse algo novo sem, contudo, apresentar novos rumos ou alternativas reais capazes de mudar o panorama deprimente como este atualmente em processo.
Esse pensar deve ser original e apoiar-se em estruturas sólidas capaz de garantir a manutenção permanente do funcionamento educacional. Significa um pensar solidário que possa assumir uma postura política de caráter transparente para com os propósitos da educação.
Não faz sentido pensar a atual educação da forma que ai está posta. Naturalizando de bom grado o agir de pseudos-profissionais que sequer sabe o que ensina e para quem ensina. Roedores - indivíduos que não tem compromisso com a instituição onde ensina fazendo bico para complementar suas rendas ou fazendo das Escolas um lugar para se ocupar o tempo. Indivíduos fetichistas. Estes passam ao largo de estabelecer qualquer vinculo afetivo com seus pares. Tipos esses, que apodrecem nossos sonhos de esperançar e viver uma sociedade politicamente justa e equilibrada.
Precisamos pensar e criar alternativas objetivas e desburocratizadas, romper com os estereótipos preestipulados por cabeças bem cheias e infladas de conceitos dogmáticos.
A retomada da prática da educação filosófica cunhada no valor imperioso da Paidéia é sugestiva para resgatarmos conceitos e atitudes valorativas, integrar o sujeito à sociedade e, sobretudo, suprimir do seu ideal de vida um mal que ronda toda a humanidade: a anorexia pelo pensar. Quem o fará senão a filosofia?
Assim sendo, fica posto um desafio que a filosofia de antemão aceita e agradece. O emergir da filosofia e a sua competência para contribuir eminentemente para o desenvolvimento do espírito problematizador. “A filosofia é, acima de tudo, uma força de interrogação e de reflexão, dirigida para os grandes problemas do conhecimento e da condição humana”. Por tudo isso, a filosofia deve imediatamente mostrar sua face, desocupar-se de sua monadazinha - de exclusiva e restrita em si mesma e fazer jus a sua missão desde os tempos clássicos sem, contudo, perder de vista as investigações que lhe são próprias.
É assim a natureza da filosofia; e sem ressalvas, aos demais professores, na condução de seus ofícios. Deverão estender seus poderes de reflexão aos conhecimentos científicos, bem como à literatura e à poesia, alimentando-se ao mesmo tempo de ciência e de literatura.
Posto isso, poderiamos imaginar as sendas que nos permitiriam descobrir, em nossas condições contemporâneas, regida por tensões e conflitos, as finalidades da cabeça bem-feita proposta por montaingne. Tratar-se-ia de um processo contínuo ao longo dos diversos níveis de ensino, em que a cultura cientifica e a cultura das humanidades poderiam ser mobilizadas.
A Filosofia, velha e secular como é, mas jovem de espírito e pronta quem sabe para ser levada ao tribunal, por estar como Sócrates pervertendo a ordem que um Estado velho e Aristocrático sustenta: qual seja a de uma Ideologia pregressa, que lentamente vai tolhendo da sociedade o direito de viver uma vida pautada na reflexão.
A educação da juventude precisa de guias, isto é, pessoas sérias e comprometidas com aquilo que faz. A tarefa do verdadeiro mestre é purificar a cultura e despertar nos alunos a força diante da visão das novas tendências fazendo-os superar a mediocridade de então.
A filosofia é simples, mas exigente quanto à liberdade. Liberdade diante do Estado, da economia, da religião, enfim, dos valores estabelecidos e dominantes. Luta permanente contra os baluartes da mediocridade e seus adeptos, luta que numa época em que não dá mais importância a reflexão e a liberdade de sonhar a melhor educação. Aliás, o que mais vemos nas escolas são verdadeiros pactos de mediocridade dirigidos aos estudantes que por sua vez apequenam cada vez mais suas possibilidades cognitivas e, sobretudo humanas.
Para aqueles que amam o que faz, abraça e sofre com os ardis da educação contemporânea, permitam brotar em vossos corações e na consciência sentimentos de responsabilidade e jamais deixem se contaminar por aqueles que já não tem mais o que contribuir, mas que não perdem a oportunidade de poder contaminar e hostilizar nossas escolas com suas sarcásticas idéias.
Saibam desde sempre que a vocação do verdadeiro Educador é despertar o potencial único que jaz adormecido em cada estudante. Prepará-los para a vida e o mundo. Perceber na alteridade o sentido de ver o outro como outro e não como uma coisa que possa ser quantificável. Aceitar o outro como outro na sua subjetividade com todas as suas diferenças...
Posto isso, pensamos estar resolvendo não todos os problemas, mas quem sabe, uma parte deles; que é resgatar nossa alto-estima e a vontade de partilhar com nossos jovens o espírito filosófico que há muito jaz adormecido dentro de cada um de nós.
Tarefa árdua, mas sempre possível. Que tal experimentarmos?
Paz e bem!
Por: Israel Martins / Filósofo. Professor-Educador da Rede Pública de Ensino de Belo Horizonte, MG.
Nome em citações bibliográficas: Martins, Israel Silveira.
Blog: http://www.educeacao.blogspot.com/
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